Série especial, capítulo 4: profissionais da Belas Artes chegam ao Salgueiro e mudam o
visual das escolas
O desfile das escolas de samba sofreu uma transformação radical nos anos 60. Essa mudança aconteceu com a chegada no clube das grandes (Mangueira, Portela e Império) de uma escola jovem, fundada poucos anos antes: o Salgueiro. A vermelho e branco já surpreendeu em 1959, ao falar de Debret e trazer um casal de artistas plásticos como carnavalescos (Dirceu e Marie Louise Nery).
E foi neste desfile que o Salgueiro ganhou o amor do homem que ia mudar a história do carnaval. Fernando Pamplona era um dos jurados, se encantou com a escola e logo foi convidado para assinar o carnaval salgueirense, em 1960. Começava ali o reinado carnavalesco dos profissionais oriundos da Escola de Belas Artes — entre eles, Arlindo Rodrigues, Maria Augusta, Joãosinho Trinta e Rosa Magalhães. Eles trariam para as escolas de samba um visual mais apurado e enredos que fugiam da historiografia oficial.
O Salgueiro já mostrou a que veio logo no primeiro ano de Pamplona. Com o enredo "Quilombo dos Palmares", ganhou seu primeiro título, mas não sozinho — depois de uma tremenda confusão na apuração, também foram consagradas campeãs Portela, Império Serrano, Mangueira e Unidos da Capela. Em 1963, novo campeonato, contando a história de Xica da Silva, e nova polêmica. O Salgueiro levou para a Avenida um minueto coreografado por Mercedes Baptista — para os críticos, a escola estava desvirtuando os desfiles ao trazer elementos que não tinha nada a ver com o samba. Mas o campeonato viria também em 1965, 1969 e 1971.
Os anos 60 também são marcados pelo surgimento de um talentoso compositor portelense, Paulinho da Viola: é dele o samba que embalou o título da azul e branco em 1966, "Memórias de um sargento de milícias". A azul e branco continuava sendo comandada por Natal, que mesmo preso dava as cartas na escola.
Em 1967, foi a vez de a Mangueira trazer para a Avenida um clássico dos sambas-enredo: "O mundo encantado de Monteiro Lobato". E as pérolas da década não param por aí: a "Aquarela brasileira" do Império (1964) e o "Sublime pergaminho" da Unidos de Lucas (1968) estão em todas as antologias do gênero.
A porta-bandeira fantasma levou nota 8
Nos anos 60, o julgamento das escolas foi se aperfeiçoando. Alguns quesitos eram suprimidos, outros acrescentados, e muitas experiências foram feitas — em 1964, por exemplo, o regulamento previa o $"desfile não-interrompido". As brigas depois do resultado também eram constantes. Neste mesmo ano, depois da vitória da Portela, as demais escolas entregaram à Secretaria de Turismo um documento $a anulação do julgamento, mas não tiveram sucesso. "É sempre assim. Toda vez que a Portela vence, dizem que foi roubado", debochou Natal.
Em 1965, o julgamento do quesito "coreografia do mes$sala e da porta-bandeira" previa uma nota para cada um deles. Dessa forma, a jurada Enid Sauer atribuiu nota 6 ao mestre-sala da Imperatriz e nota 8 à porta-bandeira. O problema é que, por um problema com as fantasias, eles não desfilaram! O curioso é que Neide da Mangueira, uma das maiores de todos os tempos, recebeu a nota 6, ou seja, dançou menos do que a porta-bandeira fantasma da escola de Ramos.
Barraram o Ismael Silva!
No carnaval de 1969, um fato triste mostrou que os tempos estavam mesmo mudados. Ismael Silva, o homem que criou a primeira escola de samba do país, foi à secretaria de turismo pedir um ingresso para assistir aos desfiles. Não foi atendido. E não pôde ver a festa porque não tinha dinheiro para comprar o ingresso.
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