Série especial, capítulo 5: o reinado de Joãosinho Trinta, que ganhou sete títulos em dez anos
De 1974 a 1983, o carnaval carioca conheceu seu mais novo rei: Joãosinho Trinta. Dos dez desfiles, o carnavalesco ganhou nada menos que sete. Era o começo de uma nova era, que ia privilegiar luxo, grandiosidade e enredos delirantes. O período também marcou a che-gada em peso dos bicheiros às escolas de samba, mudando a correlação de forças na festa. Agora, as quatro grandes Mangueira, Portela, Salgueiro e Império teriam a companhia de outras três agremiações: a Beija-Flor de Anísio, a Imperatriz de Luizinho e a Mocidade de Castor.
Joãosinho Trinta começou seu reinado no Salgueiro, onde foi campeão em 1974 e 1975. Depois, para surpresa de muitos, se transferiu para uma pequena escola de Nilópolis, que nos anos anteriores havia feito enredos exaltando o regime militar. E esse foi o começo da "era Beija-Flor", que de 1976 até hoje poucas vezes ficou de fora do Desfile das Campeãs. Vale ressaltar que João não foi sozinho para a escola: Laíla, o maior vencedor da história do carnaval, também chegava à azul e branco. E o símbolo dessa fase tinha pele negra e porte de princesa: Pinah, a destaque que arrepiava a Avenida.
Joãosinho Trinta ganhou os três primeiros desfiles na Beija-Flor, se consagrando como o único carnavalesco pentacampeão do carnaval — depois ainda venceria em 1980 e 1983. Em 1977, quase foi derrotado por um estilo oposto ao seu: a leveza e a simplicidade da União da Ilha, com "Domingo", conquistaram a Avenida, fato que se repetiria ainda em 1978 ("O amanhã") e 1982 ("É hoje"). Estes carnavais colocaram a tricolor num lugar de destaque na história no que se refere a sambas-enredo.
Cartola e a correria do desfile
O desfile de 1977, na Av. Presidente Vargas, teve um momento inesquecível: a passagem da comissão de frente da Mangueira, impecavelmente vestida com um fraque rosa. Entre os integrantes, estavam Cartola, Carlos Cachaça, Juvenal, Antonico e Nelson Cavaquinho (que desfilava numa escola de samba pela primeira vez). Em 1978, novamente os mangueirenses ilustres foram ovacionados pelo público. Mas, em 1979, Cartola anunciou que não iria mais desfilar: "Não aguento mais aquela correria. Parece desfile militar".
“É aguentar o refrão e jogar pra frente”
"Não dá mais para fazer músicas com letras grandes, repassadas de poesia, o negocio agora é aguentar o refrão e jogar pra frente. Hoje, tudo funciona num esquema profissional. É dinheiro, só dinheiro. Samba-enredo com poesia pura, sem apelação, não cola mais". Essa frase do puxador da Unidos de São Carlos, Dominguinhos do Estácio, parece atual, mas é de 1977. A verdade é que o samba-enredo (e o carnaval como um todo) vinha passando por grandes transformações. O desfile das escolas, que começou como uma "disputa de samba", cada vez menos dependia da música e passava a supervalorizar o aspecto visual.
Um dos exemplos de que a andorinha do samba-enredo sozinha não fazia mais verão foi o desfile da Em Cima da Hora, em 1976. A escola saiu com um dos maiores sambas de todos os tempos, "Os sertões". Mas teve problemas com as alegorias e acabou sendo rebaixada.
E os carnavalescos, que aumentavam seu poder dentro das escolas, começaram a querer se meter também nos sambas. Em 1977, o compositor Cabana, fundador da Beija-Flor, protestou contra a interferência de Joãosinho Trinta no samba da escola: dos 31 versos escritos pelos autores, o carnavalesco mexeu em 27.
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