Série especial, capítulo 6 - Sambódromo mudou a forma de fazer carnaval: alegorias e fantasias crescem de tamanho
A construção do Sambódromo, em 1984, mudou radicalmente o carnaval. A primeira mudança foi física: o público ficou mais distante das escolas, e os carnavalescos começaram a bolar fantasias maiores e alegorias que pudessem ser vistas de cima. A segunda alteração foi na disputa: os desfiles passaram a acontecer em dois dias.
No primeiro ano da Passarela, o julgamento foi bem diferente. Havia um júri para o desfile de domingo, e outro para a segunda-feira. Cada dia teria o seu próprio campeão (a Portela ganhou domingo, a Mangueira na segunda). E no sábado seguinte, as primeiras colocadas de cada dia se apresentariam novamente, disputando um supercampeonato (vencido pela Mangueira). A verde e rosa, aliás, protagonizou um momento inesquecível: ao chegar à Praça da Apoteose e não saber muito bem o que fazer (afinal, no primeiro ano era tudo novo!), a escola deu meia volta e desfilou no sentido contrário da Avenida!
O fim da década de 80 consagraria a genialidade de Joãosinho Trinta: com "Ratos e urubus, larguem minha fantasia", o carnavalesco encantou o público ao levar mendigos para a Avenida. A apuração terminou com Beija-Flor e Imperatriz empatadas no primeiro lugar, e as duas torcidas festejaram o título. Só depois alguém lembrou que o regulamento previa o desempate com as notas descartadas. Como a escola de Nilópolis havia perdido pontos em conjunto, evolução e samba-enredo, ficou com o vice-campeonato, atrás da "Liberdade, liberdade" de Ramos.
E se os anos 80 nos tiraram Arlindo Rodrigues e Fernando Pinto, os anos 90 nos deram Renato Lage e Rosa Magalhães, que polarizaram as atenções. Renato trouxe linhas modernas para a Mocidade, levando os títulos de 1990, 1991 e 1996. Rosa requintou o estilo tradicional da Imperatriz e foi campeã em 1994, 1995, 1999 e 2000.
Outra perda marcante desse período foi o cantor Ney Vianna, da Mocidade. Mas os deuses do carnaval nos brindariam com duas preciosidades, que com seu bailado encantariam a Sapucaí: as porta-bandeiras Selminha Sorriso e Lucinha Nobre.
Proibida a genitália desnuda, pintada ou decorada!
O carnaval de 1989 trouxe um dos sambas mais marcantes da União da Ilha, "Festa profana". Mas aquele desfile também teve outro fato curioso. A destaque Enoli Lara desfilou no carro "Roma pagã" apenas com um véu cobrindo o corpo, sem nada por baixo. Um repórter perguntou a ela: "Você está nua?". Enoli respondeu: "Estou de botas". A confusão foi grande e, a partir de 1990, o regulamento dos desfiles proibia a "genitália desnuda".
Para protestar conta a novidade, Joãosinho Trinta fez o enredo "Todo mundo nasceu nu", que deu o vice-campeonato à Beija-Flor. Num dos carros, o ator Jorge Lafond veio com a genitália exposta, porém pintada. Não deu outra: no ano seguinte, o regulamento vetava a genitália desnuda, pintada ou decorada!
Aquele seria um dos últimos carnavais de Joãosinho Trinta na Beija-Flor, de onde sairia em 1992, após um escândalo na Flor do Amanhã. Mas seus dias de glória não acabariam ali. Em 1997, ele seria campeão pela Viradouro, com "Trevas, luz, a explosão do Universo". Este seria o primeiro título da escola de Niterói, que em 1992 passaria por um sufoco daqueles: um dos seus carros pegou fogo no meio da Avenida.
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