O carnavalesco Marcus Ferreira, em seu segundo ano na Estácio, conta que a ideia de desenvolver o enredo desta maneira agradou Luma de Oliveira e foi uma forma de driblar o lugar comum visto em algumas homenagens no carnaval carioca.
- Não queríamos falar da vida da Luma de Oliveira, mas sim do que ela representa para o carnaval. Desde o momento em que ficou sabendo da abordagem do enredo, ela se mostrou super satisfeita e interessada nos detalhes do desfile. As pessoas estavam esperando que a vida dela fosse retratada, coisas banais que já vimos em várias homenagens, mas não escolhi esse caminho. A Estácio é uma escola que gosta de desfilar solta e descontraída, além da parte plástica, já que essa argumentação me propicia muitas coisas interessantes. O nosso desfile será um grande cortejo e todas as manifestações carnavalescas brasileiras virão ao Rio para contemplá-la.
No início do texto I Give Love, escrito pelo compositor João Bosco em 1987, uma comunidade é conclamada para descer o morro e contemplar Luma de Oliveira na Marquês de Sapucaí. Marcus Ferreira explica que todo o enredo da agremiação do morro de São Carlos é construído em cima do frisson causado pela musa em suas muitas passagens na Avenida e o primeiro setor retrata os primeiros versos do texto:' Atenção, membros morenos, negros, brancos, amarelos, selvagens. Arco-íris de todas as raças, do Grêmio Recreativo Escola de Bambas Unidos do prazer e da Alegria: Luma, vai passar!'.
- A abertura tem a cara da escola. São membros de uma comunidade que vão descer o morro para desfilar. A primeira personagem é a Maria Lata D´água, por ser uma figura que também desfilava à frente das baterias. Na lata ela traz os enredos das escolas por onde ela passou e, coincidentemente, desfilou no ano do campeonato da Estácio, em 1992 -explicou o carnavalesco que trará dois quilômetros de neon no abre-alas, todo revestido com telhas de metal.
O segundo setor falará sobre a chegada dos grupos folclóricos carnavalescos no Rio de Janeiro. Para carnavalizar ainda mais o enredo, Marcus Ferreira fará com que figuras famosas do carnaval carioca façam as honras da casa. Nesse contexto, os Clóvis recebem na Avenida Rio Branco o Bumba meu Boi, o Maracatu, os Caboclinhos, os adeptos do Frevo o Boi de Mamão e outros. Neste setor estarão as baianas, que virão vestidas como rainhas do Maracatu.
- No terceiro setor, o ponto de encontro é a Lapa. E o bloco Orunmilá será anfitrião dos demais blocos afros brasileiros. O Ile Ayê, os Filhos de Gandhi, os Timbaleiros marcarão presença no cortejo para ver Luma de Oliveira passar. A bateria virá de Meninos do Olodum e considero a fantasia bem original – diz o carnavalesco.
No quarto setor será a vez de promover o encontro entras as bandas e blocos. O ponto de encontro é a Cinelândia e o Cordão da Bola Preta, como não poderia ser diferente, recepcionará os convidados. O Galo da Madrugada, o bloco paulista de sujos e esfarrapados, o Monobloco, o Bacalhau do Batata, o Cacique de Ramos e o Bafo da Onça são alguns daqueles que rumarão para a Sapucaí.
- O quinto e último setor é o momento que finalmente todas essas manifestações chegam ao Sambódromo. Vamos fazer uma homenagem também ao mestre Ciça, que esteve ao lado da Luma na Sapucaí durante muitos anos e é amigo dela até hoje. Na verdade é uma homenagem a todos os ritmistas, já que a imagem da Luma está atrelada a eles. Na última alegoria, a Luma virá rodeada de quatro mestres de bateria que fizeram parte da vida dela no carnaval. O grande mestre Ciça, que fez história na Estácio e atualmente está na Grande Rio. Mestre Paulinho, que esteve ao lado dela na Caprichosos e hoje está na Vila Isabel. Mestre Dacopê, ex-diretor de bateria da Tradição. E mestre Nilo Sérgio, que rege até hoje a bateria da Portela, última escola que ela foi rainha de bateria.
Assim que o tema foi divulgado pela escola, a Estácio de Sá sofreu duras críticas. Marcus Ferreira, apesar de bem jovem, encara com naturalidade a questão e mostra-se seguro quanto ao que os julgadores verão na Avenida.
- Acho que as pessoas tomaram um susto. Acharam que a nossa linha de desenvolvimento seria uma, mas ela é completamente diferente. Estou bem tranquilo. Mais tranquilo do que no ano passado. O andamento do barracão saiu dentro do planejado e pude ir além daquilo que fiz no último desfile em termos plásticos. Não será um carnaval de luxo, mas um desfile de bom gosto, leve, do jeito que o estaciano gosta. A cada ano que passa vou ganhando mais experiência e creio que estou evoluindo.
Campeão do Grupo Especial em 1992, o Leão espera abocanhar o sétimo título da divisão de acesso à elite do carnaval de sua história. A última vez que isso aconteceu foi no ano de 2006.