Coincidências á parte... Faço algumas análises da correlação que um determinado enredo possui com o outro.
Ao ler as sinopses, encontrei muita similaridade. E não é por falta de criatividade, mas acredito que por um enredo estar ligado diretamente ao outro pela importância da nossa cultura. E do que chamamos hoje de ESCOLA DE SAMBA, e de suas origens...
Analisando as sinopses dos enredos 2012, eu percebi o quão são pertinentes às pesquisas realizadas por cada carnavalesco e por seus colaboradores. E o fio condutor que cada enredo se envereda, se torna o ponto principal para a descoberta e a exploração do enredo a ser desenvolvido.
Os enredos sobre o Nordeste, por exemplo, possuem uma identidade impressionante, mesmo com vieses distintos, mas o são de uma forma simbólica extraordinária, que a cada ano, atravessa a avenida. Este ano, teremos: Salgueiro, Unidos da Tijuca, Portela, Imperatriz ,Beija-Flor, e até Renascer de Jacarepaguá, versando enredos pertencentes ao imaginário nordestino.
Percorrendo as suas peculiaridades, vou apresentar alguns termos e características que fazem parte da pesquisa e do desenvolvimento do enredo de duas ou mais Escolas de Samba. Vamos a cada uma delas.
Coroações... Reis e Rainhas... Salgueiro e Unidos da Tijuca.
Vem chegando a tal hora
Da minha alegre partida
Saudade, palavra agora
Tem posição garantida
Mas não se avexe meu irmão
Que hoje a coroação
Acontece é na avenida
(Extraído da sinopse do Salgueiro)
“De lembrar que, em noite de estrela, nasceu um rei no sertão...”
“... Foi cantando pelo sertão que Gonzaga virou rei...
De tanto cantarem junto, sua canção hoje é lei”
(Extraídos da sinopse da Unidos da Tijuca)
Coroação até em Angola, da Vila Isabel:
Presente em vários lugares em que houve a escravidão, a coroação de um rei e uma rainha negra (Extraído da sinopse da Vila Isabel)
Ao que pertence á Bahia, e suas manifestações populares. Portela e Imperatriz.
Por muitas vezes cantei a Bahia, agora chegou a hora de mostrá-la. (Extraído da sinopse da Portela)
Essa é a “Bahia de todos os santos” de toda gente! Gente brasileira. (Extraído da sinopse da Imperatriz).
O que as pesquisas destacam ao soprar das velas dos Navios Negreiros.
Vila Isabel, Beija-Flor e, até Mangueira.
Os navios negreiros aportavam no Cais do Valongo, longe do rebuliço da cidade. Alí os escravos viviam em depósitos, a espera para serem comprados. (Extraído da sinopse da Vila Isabel)
Abrindo as velas ao soprar das virações marinhas, surge espectro sombrio. Em meio às brumas, desenha grande navio, que traz um canto funeral. Choro, amargura e horror fazem do cúmulo da maldade, a mordaça da liberdade para triste multidão; o navio da escravidão, ferida aberta nos mares, vem macular os ares de São Luís do Maranhão. (Extraído da sinopse da Beija-Flor)
Conduzido pela dor, fui levado prisioneiro ao traiçoeiro Negreiro, o reino da apatia. Lá, sujeito às doenças e a fome que habitavam aquele porão sombrio, caí no mais denso e frio estado de melancolia. (Extraído da sinopse da Mangueira)
Na vertente da palavra SAMBA, onde encontramos SEMBA como essência... E aqui temos uma relação entre o enredo da Mangueira e da Vila Isabel.
"Música, fanfarra, préstito, maxixe e, finalmente, de semba se fez samba" (Extraído da sinopse da Mangueira)
Nosso samba... Seu semba... por isso enquanto eu sambo cá.... Você semba lá... (Extraído da sinopse da Vila Isabel)
Origens na África, que sempre são relembradas pelas Escolas de Samba. Mangueira e Vila Isabel.
Tudo começou na África, num tempo em que eu era ainda moço e minha tribo estava a mercê do perigo e os sacerdotes cuidavam de expulsar com reza forte as vibrações de má sorte que rondavam nossa morada. (Extraído da sinopse da Mangueira)
“Os calores e os desertos da África misturavam todas as espécies e raças de animais, em redor de poços, criando um ecossistema particular, capaz de engendrar hibridações monstruosas. Tal circunstancia fazia da África, o continente de todas bestialidades, o território de eleição do diabo.” (Extraído da sinopse da Vila Isabel)
A tendência de grandes pintores, cada qual com seu estilo, e sua época. Renascer e Mocidade.
Museus mundiais puderam apresentar a sua nação o encanto das telas e peças deste artista. Romero Britto chega à Cidade Luz, ao Louvre em Paris, o mais visitado museu do mundo, onde nosso genuíno artista pôde se encontrar com os maiores Gênios das artes plásticas do mundo que até então, viviam apenas nas lembranças de sua infância. (Extraído da sinopse da Renascer de Jacarepaguá)
Hoje, somos as tintas que envolvem as cerdas do teu pincel, e que, na mistura das cores, por ti, Portinari, rompem a tela para a realidade e brilham no samba de Padre Miguel. (Extraído da sinopse da Mocidade Independente de Padre Miguel)
Outro fato interessante é o viés dos enredos com relevância cultural americana e europeia (francesa, inglesa, espanhola), permeando União da Ilha, São Clemente, Porto da Pedra e até Unidos da Tijuca.
Avante legítimas representantes carnavalizadas desta verve, as Comissões de Frente, espetáculo à parte na Avenida, quando sobem pernas, arrancam roupas, despertam o aplauso e o inesperado acontece: é a Broadway tupiniquim! A abertura é mágica!”. (Extraído da sinopse da São Clemente)
“Once upon a time”, ou “ERA UMA VEZ”... É a forma mais popular, desde 1380, de iniciar histórias em língua inglesa. (Extraído da sinopse da União da Ilha)
Serão mostradas as fases da evolução das embalagens e também das fábricas de Iogurte criadas na década de 20 na Espanha, na França, onde daremos uma atenção especial, sua migração para as Américas, na década de 30, principalmente nos Estados Unidos e, por fim, o alimento conhecido no mundo inteiro. (Extraído da sinopse da Porto da Pedra)
As monarquias presentes também na Unidos da Tijuca.
“O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão” (Titulo do enredo da Unidos da Tijuca)
A busca pela superação, presente na Grande Rio e União da Ilha.
Inventaram com a bola nos pés a nossa maior paixão.
Hoje convidam a todos para um encontro onde pessoas do mundo inteiro mostram o que é superação, exaltando a cultura de paz. Saudemos aqueles que ultrapassam seus limites e dentre esses os nossos patrícios que sempre nos enchem de orgulho. (Extraído da sinopse da União da Ilha)
Homens e mulheres que levantam a poeira do chão, guerreiros que batem samba na palma da mão; a baiana que gira, o sorriso da velha-guarda, o passista que risca o chão, a bateria que marca o pulsar do coração, gente que “enverga mas não quebra”, gente que vem a ser o significado mais claro e puro para o nome SUPERAÇÃO! (Extraído da sinopse da Grande Rio)
Em um ano com grandes enredos, e por mais que não gostem é complicado mesmo de aceitar esse tipo de proliferação nos enredos ditos "catálogos", que servem apenas para promover empresas, sem o mínimo de cuidado com a história e a tradição das nossas escolas de samba, e da nossa cultura popular brasileira.
Falar da história do leite e de seus derivados, em algum momento, pode ser apelativo, e ao mesmo tempo inteligente, mas pouco atrativo. Não se enquadra com o que buscamos ver em uma Escola de Samba. É esse é o maior desafio da Porto da Pedra.
Falando em desafio, temos também um enredo, que é tudo, e ao mesmo tempo, não é nada. Mas que não deixa de ter sua importância e seu laço afetivo com os demais enredos, que enaltece a nossa cultura, e a história daqueles que superaram os obstáculos da vida. Afinal, o fazer "Escola de Samba" é em si um grande desafio. E a superação está presente em nosso dia-a-dia. E que a Grande Rio consiga de fato convencer com as suas histórias.
Por outro lado, temos enredos, que já são taxativos, falar da Bahia e Jorge Amado pode ser em algum momento cansativo, “batido”, sem inspiração, mas a Bahia é um grande celeiro da cultura brasileira, e tem sim, sua importância na cultura nacional, e suas particularidades, se forem bem exploradas, assim como as grandes Obras do escritor Bahiano, deixando de ser cansativo, e passando a ser inovação. Vai depender do ponto de vista, e o seu desenvolvimento.
Falar de Literatura de Cordel, Maranhão, Cacique de Ramos, Olimpíadas, são também enredos já vistos em outros anos. Logicamente, cada enredo mencionado, terá um recorte diferente, mais apurado, diferenciado, mesmo pelo estilo e pela característica de cada carnavalesco.
Afinal, de todos os enredos que passarão na avenida, acredito que, apenas
Romero Britto seja novidade. Mas mesmo assim, se torna um enredo confuso, e de pouco apelo cultural.
Pra mim, os melhores enredos são: Vila Isabel, Salgueiro, Imperatriz e Unidos da Tijuca.
Enredos de apelo popular: Mangueira e Portela.
Bons enredos: Mocidade, São Clemente e Beija-Flor.
Enredos fracos: Renascer de Jacarepaguá, Grande Rio, União da Ilha e Porto da Pedra.
Boa sorte a todas as Escolas de Samba. E um ÓTIMO CARNAVAL a todos.
Thiago Vergete