
- Vamos fazer uma homenagem à obra musical de Clara Nunes. Não é um enredo biográfico. É importante que as pessoas saibam disso. Vamos mostrar a Clara da maneira que ela gostaria de ser vista, não como algumas pessoas gostam de vê-la. As pessoas, ás vezes, podem achar que tem pouco samba, pouca roupa de santo, mas ela não era só isso. Vamos expandir a Clara Nunes – explica Jack.

- O segundo setor são as músicas que retratam o amor que a Clara tinha pela natureza. Ela tinha uma relação forte com a natureza desde pequena e cantou isso. Cantou as flores, a praia, o interior, o serrado. Ela tentou traduzir o Brasil. A alegoria desse setor é o mar. Por incrível que pareça, ela vem de um lugar que não tem mar, que é Minas Gerais, mas quando chega ao Rio é uma paixão imediata. O apego dela com isso é muito interessante.

- A Clara deixou um verdadeiro tratado em relação a isso. As relações de casa grande e senzala são bem enfatizadas nas obras dela. Tudo isso culmina na questão religiosa. Ela ficou conhecida na época como uma cantora de macumba, porque se vestia de branco, cantava e louvava os orixás. É impressionante como no Brasil se rotula muito as pessoas. Parece que é preciso de um rótulo para ser posicionado na sociedade e a Clara sofreu com isso. Muita gente fala que o desfile do Tuiuti vai ser uma macumbada. Não é nada disso. Não que sejamos contra, mas a Clara é muito mais do que isso. A origem dela é espírita e ela conheceu o candomblé e a umbanda ao chegar no Rio. Misturou tudo, como todo brasileiro faz(risos), mas a religião afro-brasileira só é possível graças a miscigenação – diz ele, lembrando que a bateria e ala das baianas estarão nesse setor.

- Foi a primeira cantora de expressão a dar voz ao compositor do morro, aquele cara que não era conhecido. Ela apenas se encontrou no samba, não veio de uma família de sambistas. Tem o Clube do Samba, que ajudou João Nogueira a fundar. Frequentou o morro da Mangueira, o morro da Serrinha e, é claro, vamos terminar com uma menção à Portela. Ela virou ícone da escola e todos esperavam para vê-la na Azul e Branco.
O último setor vai mostrar o lado mais popular de Clara Nunes. O Tuiuti pretende mostrar o povo que ela cantou e não deixa a obra se acabar. Os retirantes, os nordestinos, os trabalhadores, as figuras populares, o pescador, a cozinheira, todo esses tipos foram cantados por Clara. Jack Vasconcelos ressalta que isso passa de geração em geração e, hoje, já é possível encontrar filhos de fãs da cantora que receberam o legado.

A coreografia nas alegorias, artifício cada vez mais usado no carnaval atualmente, estará presente no segundo carro do Tuiuti. Um grupo de 38 pessoas coreografado por Andreia de Cássia, coreógrafa que trabalha com Jack desde 2009, simularão as ondas do mar. Presenças como as da velha guarda da Portela, no quarto carro, e de Alcione, no chão, estão confirmadíssimas.
Um ponto relevante do histórico da escola é o fato de sempre trazer para a Avenida enredo com forte relevância cultural. Para o carnavalesco, a característica pesou bastante no momento em que aceitou o convite para trabalhar no Paraíso do Tuiuti.

- É um alívio. Vou trabalhar numa escola que não me dará um presente de grego para desenvolver. Na verdade, as escolas assumem essas ideias ''maravilhosas'', mas quem responde por elas antes, durante e depois do carnaval é o carnavalesco. Ele que será lembrado por ter feito aquele enredo ridículo. A Tuiuti não tem patrono, é uma escola de comunidade que luta com seus próprios recursos e muito família. É muito legal ver a Tuiuti se posicionar dessa maneira no mundo do samba, custe o que custar. O enredo já sensibiliza bastante. Vamos tentar equilibrar o aspecto técnico com o emocional. O Tuiuti é uma escola que já emociona normalmente pelo seu chão forte. Com o trabalho feito no barracão tem tudo para ser maravilhoso. Outra coisa legal é que fomos a última escola a desfilar competindo no carnaval do ano passado, desfilamos como a última da terça-feira. E agora seremos a primeira a desfilar no novo Sambódromo competindo. É bem legal fechar e abrir os ciclos. É a ponte do que passou para o que vai ficar.
Ultimamente no Grupo de Acesso A, tal qual no Grupo Especial, as escolas que abrem a noite de desfiles têm sido rebaixadas. Jack garante que o fato não lhe preocupa, apesar de não saber como é ser a primeira a desfilar.

Apesar de já ter desfilado no Grupo Especial, em 2001, o Paraíso do Tuiuti busca o primeiro título da divisão de acesso à elite do carnaval carioca de sua história.