Julgadores: Afinal, quem são eles?
Por CAROLINA PAIN
SÃO PAULO – Adorados por algumas agremiações e odiados por outras. Todos os anos, durante o Carnaval, pessoas até então desconhecidas se tornam alvo e foco dos comentários de milhões de brasileiros. Os julgadores das escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo definem qual agremiação levará o campeonato e quais retornarão para o Grupo de Acesso. Trabalho nada fácil quando se trata de algo que envolve amor pelo pavilhão.
Segundo Paulo Sérgio Ferreira, presidente da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, eles são muito importantes no Carnaval, exatamente por ter um papel tão decisivo. “A cada ano, procuramos aperfeiçoar o modo do julgamento, porque é preciso evitar erros como, de fato, existiram em outros anos”, comentou ao Famosidades.
Mas, afinal: quem são os julgadores? Como são escolhidos? Qual o processo do treinamento? OFamosidades foi atrás dessas respostas. Afinal, na próxima semana, todos vão odiá-los ou amá-los...
História dos julgadores
A idéia de formar um júri para o Carnaval vem desde a época dos cordões, entre as décadas de 70 e 80. Segundo a historiadora e primeira mulher carnavalesca do país, Maria Aparecida Urbano, antigamente as rádios promoviam os concursos e cada cordão ganhava um prêmio diferente. “Isso gerava muita briga, porque não tinha apenas um campeão, mas vários”, comentou.
A historiadora explicou que, nos anos 80, os desfiles já estavam maiores e se tornou necessário colocar julgadores para escolher qual era o melhor desfile do Carnaval. “Então, artistas, pessoas ligadas ao teatro e ao cinema passaram a votar. Elas não eram ligadas ao samba, mas votavam”, disse.
Foi nessa época que a União das Escolas de Samba de São Paulo formulou uma cartilha para orientar os julgadores. “Tem algo muito interessante nisso tudo. Hiram Araújo, na época presidente da RioTur, tinha muita amizade com o pessoal de São Paulo. Ele achou muito interessante a cartilha para os julgadores e decidiu fazer o mesmo no Rio”.
Com o passar dos anos, a Ligas aprimoraram suas cartilhas, transformando-as em enormes manuais, que falam da postura obrigatória de cada julgador, quais métodos devem ser analisados, quais podem ser relevados e muitos outros tópicos.
Quem pode ser um julgador?
Está muito enganado quem acha que só basta querer para se tornar um julgador. Graças a todas essas mudanças ao longo da história, apenas pessoas capacitadas podem se tornar, de fato, um julgador tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo.
Maria Aparecida explicou que, além de ter uma base de cultura ligada ao samba, hoje é primordial que os aspirantes a julgador tenham, ao menos, um curso técnico ou um ensino superior diretamente relacionado com o quesito que irá analisar.
De acordo com os Manuais dos Julgadores das duas cidades, o Módulo Dança exige ensino técnico, enquanto os Musical e Visual pedem ensino superior completo, obrigatoriamente.
O curso
Depois de preencher este primeiro pré-requisito, os candidatos prestam algumas provas e, em seguida, vão para o Curso de Formação dos Julgadores, onde analisam desfiles anteriores, fazem “simulados” durante os ensaios técnicos na Avenida e se preparam para os dias oficiais dos desfiles.
“Eles passam por provas, fazem uma redação, psicotécnico e dinâmicas de grupo. Eles precisam estar bem preparados para nada sair errado durante os desfiles oficiais”, afirmou o presidente da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, Paulo Sérgio Ferreira.
O trabalho durante os desfiles
Segundo Maria Aparecida Urbano, o período de desfiles de uma escola de samba não é nada fácil para um julgador. “Eles ficam separados de todas as outras pessoas, num hotel sem poder receber visitas. Ninguém pode conversar nem mesmo com os familiares, porque qualquer coisa pode influenciar na escolha. Os julgadores também não podem conversar entre si, muito menos sobre os desfiles."
“Como é muito tempo de trabalho, precisamos cuidar muito bem dos nossos julgadores. Eles não podem estar cansados ou sonolentos quando uma das escolas de samba passar. Por isso, nós estamos em contato com uma nutricionista que fará uma alimentação correta para que eles aguentem a maratona”, ressaltou Paulo Sérgio Ferreira.
Quanto aos quesitos, todos devem ser analisados com calma, sempre pensando em como cada um afeta diretamente o desfile de cada agremiação.
“Jurados, por mais que prepare, é sempre o seu modo de ver, alguns erros graves que não se vêem facilmente. É uma nota sempre justificada, por mais subjetiva que seja. O que você viu e em que momento, tudo para justificar aquela nota. É preciso ter fundamento”, disse.