Vale lembrar que o jovem carnavalesco trabalhou com João quando o gênio ainda estava na Viradouro. Posteriormente trabalhou com Max Lopes na Mangueira e foi chamado para desenvolver o carnaval da Rocinha de 2008, onde ficou por três anos apresentando bons trabalhos. A estreia na São Clemente foi aprovada pela opinião pública e, a julgar pelo barracão da escola, veremos uma Preto e Amarelo com alegorias bem maiores neste carnaval. Segundo Fabinho, fruto da confiança da diretoria em seu trabalho.
- Acho que a escola se conscientizou que ela tem capacidade para fazer muito mais. Desse jeito ela deixa o artista fazer mais. No ano passado, a diretoria estava meio receosa, mas depois que eles viram o trabalho que eu fiz, se assustaram. Eles próprios me falaram isso e perceberam capacidade em mim para fazer ainda mais. As alegorias aumentaram também em função disso – contou ele.
Fábio Ricardo revelou que buscou um desenvolvimento que não torna-se o desfile da São Clemente maçante. A forma de contar a história dos musicais no Brasil é ousada e mostra uma extensa pesquisa para fundamentar de maneira correta os setores
- Na verdade, os musicais são bem antigos, eram apresentados nas praças públicas e isso será visto logo no início do enredo com os saltimbancos, que faziam os musicais nas ruas, e outras coisas. Vou contar a história dos musicais sob a ótica dos personagens desses musicais. Um exemplo é a parte do início dos musicais no Brasil, que será contado pelo Fantasma da Ópera, ele dará um baile com os grandes musicais que serão apresentados na Sapucaí. O início da escola será uma grande festa. Peguei os musicais internacionais que se adaptavam ao Brasil e fiz um devaneio de Joãosinho Trinta – brincou.
No segundo setor, Chiquinha Gonzaga e Arthur Azevedo, considerados os precursores dos musicais nacionais, serão homenageados. No contexto de desenvolvimento proposto, a princesa Dorothy, do Mágico de Oz, será inserida nos musicais de Chiquinha Gonzaga. Ela contará o desenvolvimento dos musicais no Brasil. O modelo é seguido em todo o desfile e, no terceiro setor, a era de ouro da Praça Tiradentes é retratada.
- Vamos contar a parte de teatro de revista e homenagear as grandes vedetes da época. Orfeu da Conceição será um dos musicais deste setor, mas quem vai contar a história do setor será o musical Cabaré, que é um musical internacional e se passa na mesma época. A linguagem é bem parecida. Tem essa coisa das melindrosas, das vedetes, de mulheres do cassino – explicou o carnavalesco.
O quarto setor é a vez da revolução dos musicais, a época da repressão. A Ópera do Malandro e a Gota D´água serão lembrados e quem contará a história desse setor é o musical Hair. A bateria Fiel Clementiana virá vestida Vilionista no Telhado.
- O quinto setor é o Brasil Andrógeno, que é um sátira, dedicado aos musicais sem preconceito. Quem conta essa história é a Bela e a Fera, que não tiveram preconceito em se relacionarem. É um setor mais gay(risos). Alguns musicais como a Gaiola das Loucas e o Beijo da Mulher Aranha serão mencionados. É o setor mais alegre da escola – conta Fabinho.
A influência dos musicais norte-americanos aparece no sexto e penúltimo setor do desfile da São Clemente. É a Times Square brasileira. Neste momento a Preto e Amarelo mostra a adaptação dos americanos à linguagem do Brasil. Noviça Rebelde e alguns musicais dirigidos por Miguel Falabela são exemplos. Um carro imenso da estátua da liberdade de biquíni preenche o setor. A intenção do carnavalesco é mostrar que nada se impõe à cultura brasileira, apenas se adapta.
O encerramento do desfile mostra o carnaval, maior espetáculo da Terra. Fabinho disse que considera as comissões de frente os grandes espetáculos dos desfiles atuais. Então resolveu escolher cinco delas:São Clemente 1985, Mocidade Independente de Padre Miguel 1991, Imperatriz Leopoldinense 1994, Mangueira 2002 e Unidos da Tijuca 2010, para serem homenageadas e encerrar o desfile da São Clemente.
O momento especial vivido pela São Clemente é bem perceptível. Parte disso provém da participação da Aventura Entretenimento, empresa que vem captando patrocinadores e alavancando o nome da escola na mídia, mas como todos sabem, as relações entre empresas e escolas de samba costumam trazer alguns danos para os enredos. Fábio Ricardo garante que isso não acontecerá na São Clemente e exalta a parceria.
- Eles trouxeram tecnologias e efeitos novos para acrescentar no meu trabalho. Na parte plástica eles não se metem, apenas acertamos algumas coisas na hora de desenvolver o enredo. Busquei todos os detalhes possíveis com o historiador que trabalha há bastante tempo comigo e em livros. A parte da Praça Tiradentes me deu bastante trabalho. Havia pouca informação disponível e corri atrás disso. Não fico resumido somente a internet, rodo todos os lugares possíveis. O livro ainda é a melhor fonte de pesquisa.
É também no setor da Praça Tiradentes em que está situada a menção ao bububú no bobobó. O carnavalesco revelou adorar o samba da São Clemente e garantiu que ele serve perfeitamente ao que a escola mostrará na Avenida. Elogiado por todos na escola, o carnavalesco aponta o seu comportamento como causador disso.
- Se eu sou contratado para trabalhar na São Clemente e desenvolver um projeto, tenho por obrigação e educação conhecer a casa primeiro. Eu penso assim desde a época que eu era assistente. Não adianta fazer coisas que só vão me agradar, não posso ficar batendo palmas para eu mesmo. Tenho que achar um consenso entre a minha forma de ver enredo e a minha plástica com o restante da escola. Para mim está sendo muito bom ter essa experiência do lado irreverente na São Clemente, mesmo sabendo que tive um cunho mais histórico durante a minha carreira. Tudo é o diálogo e o respeito mútuo. Tento ser sempre eu. A mesma pessoa que muita gente conheceu com 17 anos, quando comecei a trabalhar no carnaval. É claro que agora tenha muito mais responsabilidade e sou mais adulto, mas acho que sou bem quisto pela maneira que trato as pessoas.
A São Clemente será a primeira escola a entrar na Avenida na segunda-feira de carnaval. Caso consiga manter-se no Grupo Especial, a agremiação oriunda do bairro de Botafogo repetirá o que conseguiu fazer no triênio 1987-88-89, quando ficou por três carnavais consecutivos na elite. A São Clemente ainda ficaria no Grupo Especial em 1990 e 1991, totalizando cinco carnavais consecutivos entre as maiores do carnaval carioca.