
- O Brasil tem muitas pessoas assim. O Mauá é apenas um exemplo. Precisamos descobrir e redescobrir muitos personagens. Quando comecei a ler sobre ele fiquei muito impressionado. A vida dele não se restringe somente a indústria naval, essa é a ponta do iceberg. Esse enredo tem muita história. Enquanto em alguns enredos você precisa encher lingüiça, neste eu não precisei não. Tive até que enxugar. Tem muito conteúdo histórico. Vamos focar no lado empreendedorista de Barão de Mauá. Ele chega ao Rio de Janeiro aos nove anos e já começa a trabalhar numa loja como caixeiro, uma espécie de balconista. O pai dele havia morrido, a mãe não tinha condições financeiras para criá-lo e o tio acabou ficando. O próprio tio arrumou em emprego para ele numa loja que vendia de tudo, principalmente escravos. Era o Rio Imperial e é exatamente assim que começamos a desenvolver o enredo – afirma o carnavalesco, que trará em sua comissão de frente o espírito empreendedor e transformador do Barão de Mauá.

- No segundo setor vamos falar que o Barão já via que a industrialização era preciso. Ele começa a expandir os horizontes, torna-se maçom e, na maçonaria, aprende a valorizar ainda mais o trabalho livre e vira defensor dos ideais abolicionistas. Para ele, se o Brasil quisesse chegar a uma posição de respeito no cenário mundial deveria abolir o trabalho escravo e investir na industrialização – explica Jaime Cezário.

- É um marco para o Brasil e para a vida dele. Por essa atitude pioneira ele recebe do Império a condecoração da ordem de cristo, que era a maior condecoração que um plebeu poderia receber. A bateria, inclusive, vem com essa fantasia. Os passistas representarão o Império reconhecendo o valor. Após a primeira indústria ele começa a formar uma das maiores fortunas do Brasil. Era um fomentador de ideias. A pedido do Império, ele funda a primeira companhia de navegação do rio Amazonas. Naquela época, o rio Amazonas estava fechado e os Estados Unidos fazia uma política expansionista, queria ocupar o Amazonas, diziam que o Amazonas era a continuação da Bacia do Mississipi, o que é um absurdo. Havia até começado a financiar grupos aventureiros e exploradores para irem até o Amazonas. O Império estava de mãos atadas e viu no Barão de Mauá a única pessoa capaz de fazer isso – complementa o carnavalesco.
No terceiro setor surge o banqueiro. Querendo fazer mais pelo Brasil, o Barão de Mauá percebe que o dinheiro que arrecadava com a indústria não era suficiente. O tráfico de escravos havia sido proibido pela Inglaterra e ele vislumbra uma possibilidade de ganhar dinheiro a partir disso. Os milionários da época eram os traficantes de escravos. Então ele cria um banco, dando um percentual de retorno para quem aplicasse. O negócio começa a todo vapor e torna-se o maior banco do Brasil. O Império, sem banco, se interessou e resolveu estatizar o banco de Irineu. Além disso, ele cria a primeira ferrovia do país e desenvolve o projeto de iluminação a gás no Rio de Janeiro. Por todos esses feitos e mais alguns, ele ganha do Império a nobreza e recebe o título de Barão. Jaime diz que a contragosto do próprio Império, pois seu lado empreendedor e inquieto não despertava simpatia de Pedro II

O último setor do desfile da Cubango pretende promover uma grande homenagem. A última alegoria é um trem-bala partindo para a estação Brasil. Jaime Cezário explica que foi a maneira encontrada por ele para ilustrar a importância do Barão de Mauá para o desenvolvimento do país. O elo de ligação da fibra de Mauá com a garra geralmente mostrada pela escola em seus desfiles é outro mote do enredo. Apontada como a melhor escola do Grupo de Acesso A no carnaval passado por grande parte da crítica especializada, a Cubango acabou em quarto lugar, mas Jaime garante que o episódio não abalou a confiança dos componentes.

A relação com o folclórico presidente Pelé também foi abordada por Jaime Cezário. É o quarto carnaval que o carnavalesco desenvolve na escola sob a administração de Pelé, desde 2003 no cargo.

Buscando o primeiro título de sua história no Grupo de Acesso A, a Acadêmicos do Cubango tentará conquistar o direito de debutar no Grupo Especial em 2013 fechando os desfiles do sábado de carnaval.