- O Brasil tem muitas pessoas assim. O Mauá é apenas um exemplo. Precisamos descobrir e redescobrir muitos personagens. Quando comecei a ler sobre ele fiquei muito impressionado. A vida dele não se restringe somente a indústria naval, essa é a ponta do iceberg. Esse enredo tem muita história. Enquanto em alguns enredos você precisa encher lingüiça, neste eu não precisei não. Tive até que enxugar. Tem muito conteúdo histórico. Vamos focar no lado empreendedorista de Barão de Mauá. Ele chega ao Rio de Janeiro aos nove anos e já começa a trabalhar numa loja como caixeiro, uma espécie de balconista. O pai dele havia morrido, a mãe não tinha condições financeiras para criá-lo e o tio acabou ficando. O próprio tio arrumou em emprego para ele numa loja que vendia de tudo, principalmente escravos. Era o Rio Imperial e é exatamente assim que começamos a desenvolver o enredo – afirma o carnavalesco, que trará em sua comissão de frente o espírito empreendedor e transformador do Barão de Mauá.
Dando prosseguimento ao primeiro setor, o abre-alas da escola, que impressiona pelo tamanho e bom acabamento, representará o Rio de Janeiro da época de Pedro II. Os costumes europeus, a riqueza, o tráfico de escravos, a cana de açucar e o café também estarão na abertura do desfile da escola. Jaime revelou que pretende passar um pouco do sentimento defendido pelos barões de café. Eles achavam que o Brasil não precisava se industrializar, porque tudo viria da Inglaterra. Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, discordava e o seu início no comércio será mostrado.
- No segundo setor vamos falar que o Barão já via que a industrialização era preciso. Ele começa a expandir os horizontes, torna-se maçom e, na maçonaria, aprende a valorizar ainda mais o trabalho livre e vira defensor dos ideais abolicionistas. Para ele, se o Brasil quisesse chegar a uma posição de respeito no cenário mundial deveria abolir o trabalho escravo e investir na industrialização – explica Jaime Cezário.
Com isso, ele começa a pôr em prática ao criar a primeira indústria do Brasil, em Niterói, o Estaleiro Mauá, que existe até hoje. No estaleiro foram feitos 72 navios, alguns deles usados na Guerra do Paraguai. Além dos navios, lampiões e tubulações também eram produzidos no estaleiro.
- É um marco para o Brasil e para a vida dele. Por essa atitude pioneira ele recebe do Império a condecoração da ordem de cristo, que era a maior condecoração que um plebeu poderia receber. A bateria, inclusive, vem com essa fantasia. Os passistas representarão o Império reconhecendo o valor. Após a primeira indústria ele começa a formar uma das maiores fortunas do Brasil. Era um fomentador de ideias. A pedido do Império, ele funda a primeira companhia de navegação do rio Amazonas. Naquela época, o rio Amazonas estava fechado e os Estados Unidos fazia uma política expansionista, queria ocupar o Amazonas, diziam que o Amazonas era a continuação da Bacia do Mississipi, o que é um absurdo. Havia até começado a financiar grupos aventureiros e exploradores para irem até o Amazonas. O Império estava de mãos atadas e viu no Barão de Mauá a única pessoa capaz de fazer isso – complementa o carnavalesco.
No terceiro setor surge o banqueiro. Querendo fazer mais pelo Brasil, o Barão de Mauá percebe que o dinheiro que arrecadava com a indústria não era suficiente. O tráfico de escravos havia sido proibido pela Inglaterra e ele vislumbra uma possibilidade de ganhar dinheiro a partir disso. Os milionários da época eram os traficantes de escravos. Então ele cria um banco, dando um percentual de retorno para quem aplicasse. O negócio começa a todo vapor e torna-se o maior banco do Brasil. O Império, sem banco, se interessou e resolveu estatizar o banco de Irineu. Além disso, ele cria a primeira ferrovia do país e desenvolve o projeto de iluminação a gás no Rio de Janeiro. Por todos esses feitos e mais alguns, ele ganha do Império a nobreza e recebe o título de Barão. Jaime diz que a contragosto do próprio Império, pois seu lado empreendedor e inquieto não despertava simpatia de Pedro II
- O quarto setor fala sobre a ida de revolucionário da economia a Barão do Império. Ele torna-se aquilo que no início da vida não tinha muita simpatia, mas gosta, faz o brasão dele. A estatização do banco o deixa alucinado, porque tiraria dele o dinheiro para o financiamento de seus projetos. Com isso, teve a ideia de fundar um banco internacional com capital estrangeiro. A sede era em Londres, local onde era muito respeitado, Nova Iorque, Paris, Buenos Aires, Montevidéu e várias cidades do Brasil. Das oito maiores empresas do Brasil, só duas não eram dele. Cria a ferrovia Santos-Jundiaí, que ajuda muito São Paulo a ser o estado mais rico do país, a primeira companhia de bonde puxada a burro, incentiva a imigração no sul do país e no interior de São Paulo – lembra o carnavalesco.
O último setor do desfile da Cubango pretende promover uma grande homenagem. A última alegoria é um trem-bala partindo para a estação Brasil. Jaime Cezário explica que foi a maneira encontrada por ele para ilustrar a importância do Barão de Mauá para o desenvolvimento do país. O elo de ligação da fibra de Mauá com a garra geralmente mostrada pela escola em seus desfiles é outro mote do enredo. Apontada como a melhor escola do Grupo de Acesso A no carnaval passado por grande parte da crítica especializada, a Cubango acabou em quarto lugar, mas Jaime garante que o episódio não abalou a confiança dos componentes.
- A minha maior surpresa é justamente essa vontade que a comunidade está mostrando. O que ficou do carnaval é que nós fomos realmente a melhor escola. Não fomos nem vice-campeões, ficamos em quarto, mas saímos de cabeça erguida, cientes que fizemos o melhor trabalho. O primeiro ensaio de rua da Cubango este ano tinha quase duas mil pessoas. Para uma escola do Grupo de Acesso é muita coisa, levei até um susto. Não só a Cubango ficou dolorida, a crítica também. Acho que todos querem que vença a melhor. É difícil ver alguém vencendo sem merecer. Acredito que faremos um grande desfile mais uma vez, mas sabemos que a quarta-feira de cinzas pode ser complicada – desabafou ele.
A relação com o folclórico presidente Pelé também foi abordada por Jaime Cezário. É o quarto carnaval que o carnavalesco desenvolve na escola sob a administração de Pelé, desde 2003 no cargo.
- Temos uma empatia muito boa e ele confia muito no meu taco. Para um profissional não há coisa melhor que isso. Tenho uma química muito boa com a Cubango. A escola já teve vários bons nomes como carnavalesco, mas acho que ninguém conseguiu fazer como eu faço. Em 2005, no carnaval sobre o Candomblé, trouxemos um carnaval campeão e a escola perdeu para ela mesma. Isso sem um p..., agora estamos cheios de p... (risos).
Buscando o primeiro título de sua história no Grupo de Acesso A, a Acadêmicos do Cubango tentará conquistar o direito de debutar no Grupo Especial em 2013 fechando os desfiles do sábado de carnaval.