- Vamos abrir o desfile com os reinos mais fantásticos de reis e rainhas, que é o que o público mais ama. Pelo menos entendo desta forma, essa coisa do bem e do mal, do rei, da rainha, do casamento, da guerra e do amor. A nossa comissão de frente é uma luta entre os reinos de Seráfia do Norte e Seráfia do Sul, tal qual foi na obra de Duca Rachid, levada recentemente para a televisão. São dois reinos de princesas e reis nesse universo todo lúdico da utopia – explica Severo Luzardo, referindo-se ao início do desfile.
O carro abre-alas é todo branco e falará sobre a Ilha Encantada da Utopia, criada pelo escritor irlandês Thomas Moore. A alegoria impressiona pelo trabalho artesanal, característica dos carnavais feitos por Severo Luzardo, são milhares de formas feitas a mão.
- Escolhemos os reinos mais lúdicos, que dessem mais fantasia e uma estética para cima, positiva, animadora para aquela família que paga ingresso e vai para o Sambódromo assistir o carnaval. Naturalmente que é uma viagem fundamentada em literatura. Todo o enredo vem da literatura universal. Percorremos mais de 500 universos para chegarmos a pouco mais de 50 e levarmos para a Avenida – disse Severo, ressaltando o trabalho de pesquisa feito ao lado de Júlio César Farias.
No segundo setor, a Império da Tijuca mostrará os mundos que despertam fascínio e mexem com o imaginário humano. Os elfos e os reinos de unicórnio serão algumas passagens presentes no setor. Na sequência, Severo Luzardo promoverá um verdadeiro deleite para as crianças. São os reinos dos doces, dos cupcakes, das tortas e wafes.
- Acredito que nesse setor tocaremos os corações das crianças. É uma parte do desfile bem lúdica e de fácil comunicação com esse público. Depois entramos em reinos mais conhecidos, como a Atlântida, temos as raposas falantes. Neste setor veremos uma característica forte do meu carnaval, que é o artesanato. São muitas coisas feitas à mão.
Logo depois, quem estiver assistindo ao desfile da Império da Tijuca poderá conferir o mundo do Macondo - do colombiano Gabriel Garcia Marquez - , dos corsários e piratas, até chegar ao mundo do Reino de Sabá. O último setor é definido pelo carnavalesco como colorido. Até mesmo os fantasmas do Reino de Antares – que nunca conseguem ser enterrados – serão retratados de maneira leve. No encerramento Severo promete transformar o morro da Formiga no reino de Eufônia, o mundo das notas musicais.
- Nada melhor que representar isso com o morro da Formiga. Vamos transformar o morro da Formiga no reino imaginário de Eufônia. A nossa bateria se chama Sinfonia Imperial e este ano criamos a Orquestra Imperial da Tijuca, formada por crianças do morro da Formiga. Tinha uma vontade de criar um orquestra de crianças e este ano conseguimos executar. Começou devagar e a coisa foi crescendo baseada em doações. Todos os sábados de tarde acontecem as aulas. As crianças aprendem a ler partituras, tocar instrumentos e têm contato com um regente. Levamos musicalidade e sociabilidade para as crianças. Elas foram ao teatro, tiveram acesso a livros e se apresentaram em dezembro no teatro, com cenário, figurino e iluminação – diz ele, mostrando bastante orgulho da ação promovida.
Outro ponto bastante elogiável da característica de trabalho do gaúcho Severo Luzardo é o trabalho com as cores. Ele deixa sempre claro que tem por premissa fazer um desfile limpo e agradável visualmente. O carnavalesco garante que não haverá nenhuma passagem de cores brusca de um setor para o outro, mas que o Verde e Branco imperiano irá predominar.
Para colocar tudo isso em prática, Severo tem contado com uma das organizações de trabalho mais eficientes do carnaval carioca, ainda mais quando se trata do Grupo de Acesso. Ano após ano, a escola do morro da Formiga é a que vem apresentando o barracão mais adiantado. Só para se ter ideia, fantasia da bateria ficou pronta ainda no mês de junho de 2011. Severo responde o porquê de tanta organização.
- A necessidade de reinvenção. Quando você não tem dinheiro, se tem necessidade. Temos que fazer tudo de maneira antecipada e planejada. Não adianta ter dinheiro e não ter planejamento. Em junho nós encontramos mão de obra ociosa e podemos pagar pouco, que é o que podemos pagar. Quando chega perto do carnaval, temos poucos profissionais disponíveis e te cobram muito caro. Administrar o carnaval desta forma seria inadmissível para uma escola que não tem dinheiro. Tem que começar mais cedo. Nós esperamos o ano pelo carnaval, mas ele não espera pela gente, aprendi isso desde que comecei em Uruguaiana.
O carnavalesco ainda se queixa de não ter entregue o abre-alas antes. Explica-se: a alegoria é toda branca e o barracão da escola fica localizada no final da Avenida Brasil sentido Centro, próximo a Rodoviária Novo Rio. A poluição e a poeira do local poderiam sujar a alegoria de uma maneira que danificaria a pintura. A relação com o presidente Antônio Marcos Telles, o Tê, é outro fator considerado preponderante para o sucesso do Império da Tijuca
Tive confiança da diretoria da escola nesses dois anos. Nunca me foi imposto enredo e o Tê acredita no meu potencial. Isso é muito bom. Logicamente as satisfações são dadas, mas temos um entendimento bem legal. Não preciso contar tudo que vai para a Avenida, acredito que é preciso ter segredos até entre nós do corpo da escola.
A Império da Tijuca será a quinta escola a desfilar no sábado de carnaval. A última vez que a Verde e Branco esteve no Grupo Especial foi em 1996, quando foi vice-campeã do Grupo de Acesso no ano anterior.